Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

terça-feira, 19 de junho de 2012

Eu diria que


Não sei o que dizer, mas já quero te dizer tanta coisa que tenho me atropelado nas minhas próprias palavras e nas dos outros. Aos tombos, tenho procurado nos velhos poemas coisas simples ditas de um jeito menos meu pra te mostrar que não sou tão crua, só que tudo parece exposto demais, tão não você, mistério. Tentei procurar em poucas palavras aquilo que me traduziria, mas não quero também que você pense que sou assim tão minimalista, mesmo estando por inteira em cada vírgula, enquanto você, num romance inteiro. Cheguei a arriscar nos ritmos estrangeiros tortos que ando ouvindo por aqui, só que tudo veio denso demais, não quero que me ouça assim, pois minha densidade quase chega ao solo de um violino, já você, a delicadeza de uma flauta doce. Busquei a leveza da bossa, do novo velho mpb, mas me sussurraram algo que tenho perdido há tempos, trechos que você declamaria numa paixão ingênua e sincera. Tentei encontrar em antigos escritos, sentimentos remotos, algo que pudesse dizer qualquer coisa que não as baboseiras que tenho me atrevido a pronunciar ultimamente, mas tudo em vão, eram palavras cruas, nuas, densas, frágeis e bobas, eram palavras tão eu. Hoje, o que gaguejo em dizer são vultos de paixões e amores que não refletem em ti, são palavras que não te alcançam. O que é preciso ser dito ainda está pra crescer, pois você acabou de nascer em mim, como uma flor que nasce no meio de uma estrada abandonada, solo de concreto, e traz consigo toda a primavera. Não sei o que dizer, mas já quero te dizer tanta coisa que espero que você me espere. Reflorescer. Mesmo que eu continue tão eu, e você tão você, se fará um poema, um conto ou um romance regado a palavras tão nossas que até no inverno haverá flores pra enfeitar nossos dias.

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